O Brasil possui uma política de saúde mental integrada ao SUS. Esta política promove interação com áreas como transporte e educação e é bem recebida, em teoria. Mas na prática, a implementação dessa política enfrenta obstáculos significativos devido ao estigma associado ao sofrimento psíquico.
A enfermeira Rita Acioli destaca que, embora o SUS tenha conceitos avançados na área de saúde mental, internacionalmente reconhecido, desde 2016 os avanços políticos e administrativos no tema têm sido difíceis, enquanto os ataques de opositores são frequentes. “O preconceito em relação às pessoas com transtornos mentais ou que utilizam medicação controlada dificulta a formação de alianças políticas e a inclusão das pautas de saúde mental na prática cotidiana”, avaliou.
Acioli é especialista em enfermagem psiquiátrica, integra o movimento de Luta Antimanicomial de Pernambuco e a coordenação da Comissão Estadual Revisora de Internações Psiquiátricas Involuntárias. Ela concedeu entrevista ao programa Trilhas do Nordeste, realizado pelo Brasil de Fato Pernambuco em parceria com a TVT e que vai ao ar sempre às segundas-feiras, a partir das 19h45, no canal da TVT. Assista abaixo.
Segundo Rita, até a manutenção ou expansão dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no Brasil variam conforme o governo e suas políticas de saúde. Atualmente há quase 3 mil CAPS no país, mas poucos funcionam 24 horas, o que destaca a necessidade urgente de expansão, especialmente de CAPS infanto-juvenis e serviços em municípios menores.
A meta é evitar a dependência institucional para os pacientes, promovendo a inclusão comunitária e fechando hospitais psiquiátricos. Para isso, é crucial aumentar os recursos destinados à saúde mental no orçamento público, expandir serviços e integrar saúde mental com educação, trabalho e outros serviços sociais. A inclusão de populações rurais e interioranas também é uma prioridade para garantir acesso equitativo aos cuidados.
Rita Acioli ressalta que a luta antimanicomial, centrada na dignidade e inclusão, é fundamental para combater a medicalização excessiva e o uso crescente de psicotrópicos, especialmente entre jovens.
Segundo a especialista, promover serviços que acolham precocemente e oferecer alternativas à medicação, como práticas integrativas de saúde, educação pública de qualidade e acesso a atividades culturais e esportivas, são estratégias essenciais. Mobilizar a sociedade para pressionar pela desinstitucionalização e inclusão de pessoas com transtornos mentais exige incidência em diversos espaços políticos e institucionais.
Trilhas do Nordeste com novo formato e entrevistas maiores
O programa Trilhas do Nordeste, do Brasil de Fato Pernambuco, está com uma nova configuração. A duração segue a mesma, de 15 minutos, mas agora está em novo horário na grade da TVT: todas as segundas-feiras, às 19h45, os telespectadores podem acompanhar entrevistas com personalidades nordestinas explorando temas sociais e políticos da região, além das dicas culturais que complementam o tema das entrevistas.
Nesta edição, o Balaio Cultural indica três obras cinematográficas que ilustram a importância da Luta Antimanicomial. São os filmes “Bicho de sete cabeças”, “Nise: o coração da loucura” e o documentário “Holocausto brasileiro”.
Edição: Vinícius Sobreira