O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta sexta-feira (21) que a anulação do leilão do arroz se deu porque houve uma “falcatrua numa empresa”.
Lula se referiu à polêmica concorrência para compra do arroz importado, que acabou cancelada após indícios de irregularidades e culminou na demissão do então secretário de Política Agrícola, Neri Geller (leia mais abaixo). O governo pretende fazer um novo leilão.
“Tomei a decisão de importar 1 milhão de toneladas. E depois tivemos anulação do leilão porque houve uma falcatrua numa empresa. Por que eu vou importar? Porque o arroz tem que chegar na mesa do povo no mínimo a R$ 20 o pacote de cinco quilos. Que compre a R$ 4 um quilo de arroz, mas não dá pra ser um preço exorbitante”, argumentou Lula.
Lula reclama de decisão do Banco Central sobre taxa de juros
“Vamos inclusive financiar áreas de outros estados produtivas de arroz para não ficar dependendo apenas de uma região. Vamos oferecer um direito dos caras comprar e a gente vai dar uma garantia de preço para que as pessoas não tenham prejuízo”, completou o presidente.
A declaração foi dada em entrevista à Rádio Meio FM, de Teresina, no Piauí.
Lula criticou mais uma vez a manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tomou a decisão de forma unânime.
“O sistema financeiro brasileiro não está preocupado em fazer investimento na produção, no setor produtivo. Ele está preocupado em especular, é por isso que a taxa de juros fica em 10,5% sem nenhuma explicação, sem nenhum critério”, disse o presidente.
Aprovação do governo e reforma
Lula foi questionado na entrevista sobre a aprovação do governo. O presidente voltou a afirmar que está em um ano de colheita dos projetos iniciados em 2023.
“Demora para as pessoas compreenderem, não é do dia para noite’, disse.
Na terça-feira (18), pesquisa Datafolha mostrou que a aprovação do trabalho do presidente segue estável quando comparada à rodada anterior, feita em março, oscilando de 35% para 36%, enquanto a reprovação passou de 33% para 31%. A avaliação do trabalho de Lula como regular foi de 30% para 31%.
Lula também afirmou que, no momento, não vê “necessidade de fazer reforma ministerial”. Atualmente, o primeiro escalão do governo tem 39 ministérios.
“Estou satisfeito com meus ministros”, declarou.
Lula voltou a afirmar que apoiará candidatos nas eleições municipais, mas que tomará cuidado para não criar atritos com os partidos que lhe dão apoio no Congresso Nacional.
“O presidente também reforçou o empenho para derrotar candidatos alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
“Onde não tiver candidato [do PT], vou apoiar candidato aliado. Não quero que os adversários ganhem, porque os adversários são negacionistas”, afirmou.
Lula citou que apoia as candidaturas de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, de Eduardo Paes (PSD) no Rio de Janeiro, de Maria do Rosório (PT) em Porto Alegre e de Fábio Novo (PT) em Teresina.
Na ocasião, Fávaro disse que o próprio secretário havia pedido demissão. À imprensa, Geller negou ter pedido a saída da pasta.
Um ex-assessor de Geller, que também é sócio do filho dele em uma empresa, foi um dos negociadores do leilão.
Entidades agrícolas e membros da oposição apontaram um suposto favorecimento da corretora do ex-funcionário de Neri Geller na concorrência.
O leilão de importação de 263 mil toneladas de arroz foi anulado pelo governo federal no dia 11 de junho após indícios de incapacidade técnica e financeira de algumas empresas vencedoras.
Em relação à capacidade técnica das vencedoras, o que se tem apontado é que três das quatro vencedoras não são do ramo de arroz ou de importação, o que, segundo analistas de mercado, poderia gerar problemas na operação.
Essas empresas receberiam recursos do governo para importar e entregariam o produto em unidades da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Por outro lado, nenhuma companhia tradicional participou do leilão, segundo uma das bolsas que operou a negociação.
A Conab explicou que, no atual modelo de leilão, a estatal só fica sabendo quem são as empresas vencedoras após os resultados da operação. Isso porque quem intermedia as negociações são as bolsas de cereais.
O arroz seria vendido em pacotes de 5 quilos por um preço tabelado de R$ 20 e teria o rótulo do governo. Nos supermercados de São Paulo, o pacote de 5 quilos tem sido vendido, em média, por R$ 30.
O governo decidiu importar arroz poucos dias depois do início das enchentes no Rio Grande do Sul para evitar alta nos preços do alimento, diante da dificuldade pela qual o estado passava para transportar o grão para o restante do país.
A decisão contrariou os produtores, que têm afirmado que há arroz suficiente para abastecer o Brasil. O RS é responsável por 70% da produção nacional do grão e já havia colhido 80% do cereal antes das inundações.
– Esta reportagem está em atualização