Após 18 anos, o Brasil voltou a registrar um caso da Doença de Newcastle, enfermidade que atinge aves domésticas e silvestres. O caso foi confirmado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em um estabelecimento de avicultura comercial de corte em Anta Gorda (RS), na quarta-feira (17/7). A doença traz risco para os humanos?
Em humanos, o contato com aves infectadas pode causar conjuntivite, mas a doença não é grave como nos animais. Segundo Fernando Chagas, médico infectologista do Hospital Universitário Júlio Bandeira (HUJB), em Campina Grande (PB), o mais comum é que pessoas sirvam como vetores do vírus.
“Se alguém tem contato ou toca nas secreções, fezes ou até pega uma galinha contaminada, consegue passar a doença para uma ave que saudável. É o mesmo que entrar no ambiente contaminado, pisar e se sujar com as fezes cheias de vírus. Se, depois, eu for para outro local do criadouro, levo excrementos e restos daquelas fezes, contaminando animais limpos”, diz.
O especialista destaca ainda que ter contato com animais doentes e não higienizar corretamente as mãos pode até causar reações nos seres humanos, como uma conjuntivite transitória. “Parte dos casos evoluiu para conjuntivite bacteriana, precisando de colírio com antibiótico. Isso reforça a ideia de que a conjuntivite poderia ser mais associada a uma infecção levada aos olhos pelas mãos, independentemente do vírus estar ou não presente nas secreções”, completa.
Há risco de contaminação pela carne de frango?
Não. Carnes contaminadas pelo vírus não chegam à mesa do consumidor, pois as aves doentes são eliminadas para que a doença não se propague, explica Iara Trevisol, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Suínos e Aves).
Nesta quinta-feira (18/7), no Rio Grande do Sul, o ministro Carlos Fávaro afirmou que o consumo de carne de aves é seguro. “Foram tomadas todas as providências de isolamento. É importante tranquilizar a população que esta não é uma zoonose transmissível. Então, não precisa ter nenhum receio de continuar consumindo carne de aves, ovos, nada disso”.
Quais os sintomas em galinhas?
Nas aves domésticas ou silvestres, o vírus acomete as vias respiratórias, nervosa e digestiva, deixando-as com vontade de espirrar e a respiração mais ofegante. Outros sintomas são asas caídas, torção na cabeça e pescoço, pernas distendidas, falta de apetite e paralisia completa. Por afetar o sistema digestório, é comum diarreia aquosa e esverdeada.
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Como eliminar o vírus do aviário?
Por ser uma doença grave, altamente transmissível e de difícil controle, o protocolo sanitário orienta que todas as aves do local onde o foco foi encontrado sejam sacrificadas. “O vírus tem uma capacidade de contágio realmente elevada. Então, quando uma galinha apresenta sintoma, é obrigatório que se sacrifique todas no criadouro, pois as saudáveis podem pegar o vírus ao entrar em contato”, afirma o infectologista Fernando Chagas.
Como se prevenir?
As pessoas que não são da área do Serviço Veterinário Oficial (SVO) não devem se aproximar ou mexer nas aves doentes, afirma a especialista da Embrapa. “Devido aos sintomas nervosos que ocorrem durante a infecção pelo vírus, não é difícil perceber que a ave não está bem. Por isso, o melhor a fazer é comunicar o SVO. Os municípios têm seus serviços oficiais para cuidar disso”, finaliza Iara Trevisol.
O caso no Rio Grande do Sul
A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do Rio Grande do Sul informou que o vírus da doença de Newcastle foi identificado em uma ave de um lote de frango de corte com 34 dias de alojamento de uma propriedade de Anta Gorda (RS). Os técnicos responderam à notificação de suspeita no dia 8 de julho.
De acordo com o órgão, o animal infectado apresentou diarreia esverdeada e prostração. No dia 9 de julho, a equipe da Inspetoria de Defesa Agropecuária local iniciou a investigação do caso. Amostras foram coletadas e enviadas ao Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo (LFDA-SP), que confirmou o diagnóstico.
Segundo o diretor-adjunto de Defesa Sanitária Animal do Estado, Francisco Lopes, ao menos 775 propriedades rurais num raio de 10 quilômetros do estabelecimento onde o caso foi confirmado serão fiscalizadas para averiguar possível propagação do vírus. Barreiras sanitárias também devem ser realizadas na região.
Na terça-feira (16/7), o Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal (DDA) enviou técnicos para granjas avícolas na área do entorno da granja. No comunicado, Lopes afirma que as equipes da Seapi já visitaram outras granjas de frangos de corte em um raio de 3 quilômetros do local onde a ave foi infectada. Nenhum outro caso suspeito foi identificado.
“A partir de agora, as equipes passam a atuar em, no mínimo, 775 propriedades rurais cadastradas em nossos sistemas, que incluem a avicultura comercial e de subsistência, para investigação clínica e epidemiológica, além de orientações das medidas de biosseguridade das granjas”, disse Lopes.
Segundo o Ministério da Agricultura, além de eliminar as aves da granja onde a doença foi detectada, será feita uma investigação em um raio de 10 quilômetros ao redor do local para identificar possíveis novos casos.