“O Nordeste mudou bastante, mas a herança histórica ainda pesa muito”
Por Mario Henrique Ladosky*
Recentemente assisti uma palestra da Profa Tânia Bacelar, uma das maiores especialistas em economia e desenvolvimento regional no país, acerca da situação recente do Nordeste. Ouso trazer aos leitores e leitoras do BdF algumas das principais ideias apresentadas no evento, pela qualidade da reflexão que nos faz compreender melhor o contexto, as potencialidades e desafios para o desenvolvimento nordestino na atualidade. As insuficiências e lacunas que este artigo eventualmente apresentar são de minha inteira responsabilidade. A principal mensagem é de que o Nordeste mudou e vem mudando bastante, mas a herança histórica ainda pesa muito!
No passado o país teve como centro econômico uma sucessão de atividades/produtos que articulavam regiões produtoras diretamente à esfera internacional, como foram, por exemplo, as plantações canavieiras do Nordeste; a extração de ouro de Minas Gerais ou o café paulista. Formávamos então “arquipélagos regionais”, sem uma integração nacional. Essa realidade começou a se alterar com o processo de industrialização, a partir dos anos 1940/1950, que concentrou as atividades fabris no Sudeste, sobretudo em São Paulo, e tornou o Nordeste “mercado consumidor” daqueles produtos, drenando riquezas locais rumo ao centro mais integrado do capitalismo brasileiro, impedindo que um capital se formasse e fosse investido para prosperar a região.
A pobreza logo estampou uma “imagem do Nordeste” no Brasil, que passou a ser “problema” nacional. A criação da SUDENE incentivou a industrialização e com a chegada de empresas, o Nordeste fez parte da “integração produtiva nacional” e passou a ter a mesma dinâmica de ciclos econômicos que as demais regiões, com períodos de crescimento e de retração semelhantes, porém quase sempre abaixo da média nacional.
Nas primeiras décadas do século XXI, os investimentos e incentivos dos governos neodesenvolvimentistas nos estados do Nordeste vem alterando essa realidade e a região, de 2013 a 2019, teve um crescimento do PIB acima da média nacional. Mais do que números, a região vem se firmando em áreas de tecnologia de ponta, como biocombustíveis, na geração de energia eólica e solar, e expandiu ecossistemas de inovação em TIC, por exemplo. Na área da educação, o Nordeste lidera de projetos inovadores no ensino fundamental e médio, além da contribuição da rede de ensino superior público, que se expandiu no período. O Nordeste, hoje, pode liderar a “solução” para muitas questões nacionais.
Claro que, conforme colocado no início do artigo, o passado ainda assombra o presente tão promissor, sobretudo pela extrema pobreza e pela má qualidade do trabalho (baixos salários e informalidade com precariedade das condições de trabalho e baixa qualificação) que permanecem como desafio a serem enfrentados.
*Professor de Sociologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Coordenador do Observatório do Mercado de Trabalho e da Informalidade na Paraíba – OMTI-PB
Apoie a comunicação popular, contribua com a Redação Paula Oliveira Adissi do Jornal Brasil de Fato PB
Dados Bancários
Banco do Brasil – Agência: 1619-5 / Conta: 61082-8
Nome: ASSOC DE COOP EDUC POP PB
Chave Pix – 40705206000131 (CNPJ)
Edição: Polyanna Gomes