Um exemplo é o Museu Islam Karimov, dedicado à memória do ex-presidente. Karimov comandou o país desde 1990, às vésperas da independência e do desmantelamento da União Soviética. Só largou o osso do poder quando morreu, em 2016.
No ano seguinte, a capital, Tashkent, ganhou esse museu. Fica em um anexo do palácio presidencial Oqsaroy, construído durante o mandato de Karimov e uma homenagem (ou imitação barata?) da residência presidencial mais conhecida do mundo.
A instituição se dedica a mostrar a vida do ditador por meio de fotografias e pinturas que escancaram o que é, na prática, um culto descarado de personalidade. Tem Karimov ao lado de Putin e do então príncipe Charles. Tem também retratos de um estadista sereno, de gravata, sentado em pose calma e segura, ou ao lado de dois tigres vorazes ou com um eclipse de pano de fundo. Uma farta fonte de memes à la Coreia do Norte.
É bizarro, e pode ser divertido. Especialmente para quem não viveu sob o regime de Karimov. Afinal, é óbvio, não há menção às violações de direitos humanos, à perseguição a rivais políticos, à repressão à religião. Não se fala dos prisioneiros atirados em água fervente nem do patrimônio bilionário acumulado pela família.
Em 2006, Karimov foi eleito um dos piores ditadores do século 21 em uma lista elaborada pelo pesquisador americano David Wallechinsky. O museu em Tashkent é um ótimo local para não conhecer a sua história (ênfase em “não”), apenas o mito.