Alunos de estados das regiões Norte e Nordeste do Brasil apresentam um atraso de aprendizagem de quatro anos em relação a estudantes do Sul e Sudeste. A constatação é de estudo da Fundação Lemann a partir de microdados da Prova Brasil – avaliação nacional que mede a qualidade do ensino no país. O levantamento aponta que, ao término do ensino fundamental, no 9º ano, estudantes que moram em Alagoas, Maranhão e Amapá dominam menos conhecimentos de português e matemática do que aqueles que estão terminando o 5º ano na rede pública de Minas Gerais, Santa Catarina e também do Distrito Federal.
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Outros exemplos também assustam. Em escolas municipais do Amapá, apenas 2,4% dos alunos vão para o ensino médio com aprendizado adequado. O porcentual é parecido com o apresentado por Alagoas, 3,6%, e Maranhão, 3,8%. “Os números mostram que existe alguma coisa muito errada”, afirma o autor do estudo, o economista Ernesto Martins Faria, coordenador de projetos da Fundação Lemann.
Apesar de haver um forte apelo pelo aumento de verbas para a educação, dinheiro não deve isoladamente explicar a disparidade no aprendizado. “Mais do que apenas verbas e repasses, essas regiões são as que mais necessitam de um acompanhamento contínuo, de suporte e de diálogo”, ressalta Faria.
Sem acompanhamento, algumas práticas fundamentais para garantia do aprendizado acabam sendo ignoradas: é caso de formação continuada de professores, elaboração de uma boa proposta curricular e atenção diferenciada às escolas em situação mais vulnerável. O resultado: enquanto 45% dos professores da região Sudeste afirmam desenvolver com os alunos pelo menos 80% do conteúdo curricular, o porcentual é de apenas 27% no Nordeste e de 30% no Norte.
As taxas de abandono e reprovação também são mais altas nessas regiões. Duas em cada dez crianças do Norte e Nordeste do país, com idade média de 8 anos, são reprovadas ou abandonam a escola. Exemplos do próprio Nordeste mostram que a criação de uma cultura de acompanhamento, que defina metas e priorize intervenções, pode mudar esse cenário. “O Ceará se sobressai nos anos iniciais, o que pode estar relacionado aos avanços obtidos com o Programa Alfabetização na Idade Certa”, afirma Patrícia Mota Guedes, especialista em Gestão Educacional na Fundação Itaú Social.
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(Com Estadão Conteúdo)