Manuel Fernandes França Júnior [1]
Maria Milena de Oliveira [2]
Laís de Oliveira Castro [3]
DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/livros/3240
INTRODUÇÃO
O Nordeste Brasileiro enfrenta problemas de desenvolvimento regional em consequência de fatores históricos, geográficos e hidrológicos. Muitas famílias sofrem com desigualdades sociais e são impedidas de ter acesso a recursos básicos indispensáveis para a vida de qualquer ser humano. Para Amartya Sem (1999 apud CRESPO, GUROVITZ, 2002, p. 06) A pobreza pode ser definida como uma privação das capacidades básicas de um indivíduo e não apenas como uma renda inferior a um patamar pré-estabelecido”.
A região conta com programas do governo para melhorias na qualidade de vida da população. Foram feitas diversas ações que ampliam o desenvolvimento das pessoas que fazem parte dos Estados nordestinos, como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Seguro Safra e dentre outros. É importante destacar que, todas as medidas criadas pelo Governo amenizam a situação, mas não combatem o problema por completo. Mesmo que consigam uma moradia, é necessário sustentar a casa, e hoje, com a alta dos preços é quase impossível viver apenas com estes benefícios. Os jovens que vivem em uma realidade na qual ter acesso a alimentação, moradia e vestuário se torna uma batalha diária, tão pouco terão disponibilidade para buscar novos horizontes através da educação.
A educação é um importante mecanismo de transformação social. Desenvolve no ser humano a capacidade cognitiva de interpretar informações e formar opiniões críticas sobre assuntos que estão em pauta na sociedade. O sujeito passa a entender o seu lugar no mundo, qualificando-se para o mercado de trabalho, com o objetivo de buscar melhorias para sua vida pessoal e em sociedade. “A Educação envolve todo esse instrumental de formas de percepção do mundo, de comunicação e de intercomunicação, de autoconhecimento, e de conhecimento das necessidades humanas” (RODRIGUES, 2001, p. 243).
Contudo, na escolha entre trabalhar e ganhar o pão de cada dia ou priorizar os estudos, o trabalho árduo ganha liderança. Estudar é um privilégio alcançado por poucos, faltam oportunidades de vida para os moradores dessas localidades que contém déficit de renda. Partindo da realidade imediata que se observa, esta pesquisa tem como questão principal discutir de forma sucinta sobre as vulnerabilidades sociais presentes na Região Nordeste do País, e seus impactos no acesso à educação das pessoas que vivem na localidade.
Por fim, o presente trabalho é uma construção informativa e foi iniciado com a busca bibliográfica de autores que discutem sobre a temática. Diante disso, discorreu-se sobre vulnerabilidade social, preconceito sociocultural e educação no Nordeste, com ênfase nos principais autores que mais discutiam tal complexidade, como Santos (2008) e Vasconcelos (2008). Por fim, foram feitas análises e discussões de pesquisas realizadas em sites da internet que trazem evidências sobre as afirmações feitas ao longo deste trabalho.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Ao falar-se sobre vulnerabilidade social, tema este recorrente no país, percebe-se que desde sua colonização a formação de sua sociedade, sempre dividiu e reconheceu cada papel e influência perante suas mais diversas tarefas/funções. Funções essas que tinham como “pré-requisito” sobrenome, influência, classe, cor, etc. Apesar dos longos anos desde esse momento, ainda vemos resquícios de tal concepção, que se apresentam em cada região do nosso país.
A ausência dessa influência é uma característica que se manifesta desde direitos básicos até grandes investimentos, sobretudo, no interior do Nordeste e comunidades rurais, que sofrem com a carência de acesso ao conhecimento, de acesso ao trabalho, de desenvolvimento infantojuvenil, de condições habitacionais e com grande escassez de recursos. Além destas carências, a região sofre com a discriminação e estereótipos, que segundo Santos (2008) é uma grave problemática presente no nosso dia a dia e que se reflete, por exemplo, na segregação, discriminação, racismo e xenofobia, etc. Tais associações acabam gerando revolta ou aceitação de tamanha ineptidão, que acabam prejudicando a vida de muitas pessoas, sobretudo, os jovens.
O país, em sua totalidade, foi moldado por uma sociedade latifundiária, escravocrata e aristocrática, em que se sustentava apenas por uma economia agrícola rudimentar, que não se necessitava de pessoas letradas e nem de muitos para governar, mas sim de uma massa iletrada e submissa. Ao longo dos anos, principalmente no Nordeste, perpetuou e aumentou a crença que pobre não tem perspectivas e razões de estudo, por ser uma exceção e não uma necessidade. Tal carência, transformou a região em um local de mão de obra barata e desqualificada, gerando uma relação de codependência de regiões desenvolvidas e “estudadas”.
Para muitos que compõem essa realidade, o básico do ensino é suficiente, como escrita do nome e a leitura de palavras, o que aumenta ainda mais a ideia de exceção, e não, necessidade. Qualquer circunstância pode ser pivô do afastamento educacional, seja a compreensão do mínimo, a busca de melhores condições de vida, renda etc., mas nunca compreendida como caminho para aquilo que se almeja. Pois, não diferente da realidade fornecida à região, a educação, também representava um lugar de seleção, logo, para poucos.
Segundo Mézáros (2012, p. 69): “Na concepção de educação há muito dominante, os governantes e os governados, assim como os educacionalmente privilegiados […] e aqueles que têm de ser educados, aparecem em compartimentos separados, quase estanques”. Destacando que de um lado estão os privilegiados, e logicamente, do outro se encontram os menos afortunados em que é destinado à condição de mão de obra facilmente explorável, preferencialmente iletrada.
Além da crença de incapacidade ou da concepção errada sobre o real papel do ensino, temos as comprovações, que são dolorosas e que marca grande parte da região e do país, que volta ao mapa da fome nos anos 2021-2022. A Região Nordeste possui o 2° maior percentual do Brasil, que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirma que sua população não se alimenta adequadamente e que passa fome.
Figura 1 – Gráfico da distribuição percentual da Segurança Alimentar e dos níveis de Insegurança Alimentar no ano de 2021-2022
Apesar dos programas desenvolvidos pelo governo federal que muito se é debatido no país, e encarado por muitos brasileiros como ‘sustenta vagabundo”, nos mostram que apesar de tal “benefício”, o mesmo ainda não se torna suficiente ao sustento. Esse percentual, é apenas mais um dos motivos da desestruturação da educação. Afinal, a falta de alimento gera insuficiência nutricional, que gera um mal desempenho escolar, e consequentemente, uma evasão escolar. Para Chambers (1989 apud RECIO, 2010) os principais elementos caracterizadores da vulnerabilidade social são 3: a exposição de um indivíduo ou grupo a determinados riscos, a capacidade desse em enfrentá-los, assim como a potencialidade desses riscos em trazer sérias consequências aos afetados.
Compreendemos que a dificuldade do acesso à educação por parte da sua população vai muito além da disponibilidade de instituições de ensino, mas, da realidade social em que aquele jovem, criança e até adulto está inserido. A educação é um importante mecanismo de transformação social para muitas pessoas, inclusive para região Nordeste, porém, nem sempre se é possível fazer tamanha escolha, principalmente, quando enfrentam a fome, a sede, o desabrigo, o preconceito, a vida.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O tema abordado, em especial os desafios da educação enfrentados pelo povo nordestino, é de extrema importância, posto que nos apresenta a realidade da educação nordestina, suas dificuldades, bem como nos faz debater quais os mecanismos e meios para se resolver o problema.
A educação nordestina apresenta muitas peculiaridades, fazendo com que a sua melhoria seja algo que demanda políticas públicas de incentivo, bem como uma mudança de consciência por parte da população.
Portanto, para que a educação nordestina possa ter melhorias, e supere as dificuldades, é preciso mudanças, nas abordagens metodológicas e nos próprios matérias, para que todas as áreas possam evoluir, e ao final, tenhamos resultados satisfatórios na educação do povo nordestino.
Por fim, a esperança de um povo é uma educação de qualidade, e neste sentido o nordestino, um povo já sofrido, precisa vencer os desafios elencados neste trabalho para que possa sonhar com dias melhores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos que embora nos últimos tempos o acesso à educação tenha aumentado, tornando quase a universalização do ensino fundamental, mas a continuação dos estudos em outros graus de ensino ainda é um grande desafio da educação no Nordeste. Compreendemos que as dificuldades enfrentadas pelas pessoas que residem nessa localidade para ter acesso à educação, está atrelado a diversos fatores, como os econômicos, os culturais, entre outros. Dessa forma, investir em dinâmicas assertivas para garantir o acesso dessa população à escola, é o caminho correto a ser percorrido. Como também garantir o acesso de uma educação de qualidade para aqueles que já desfrutam do acesso, como usar de modo eficiente o tempo em sala de aula e proporcionar a troca de informações buscando entender a realidade desses educandos, são pontos estratégicos a serem trabalhados.
REFERÊNCIAS
CRESPO, A. P. A.; GUROVITZ, E. A pobreza como um fenômeno multidimensional. RAE eletrônica, v. 1, n. 2, p. 1–12, dez. 2002.
CHAMBERS, R. Vulnerability, coping and policy. IDS Bulletin, v.20, n.2, 1989.
DA SILVA, Antonio Luiz; SANTOS, Patrícia Oliveira S.; DE MINGARELLI NOGUEIRA, Christina Gladys. “O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA ZEROU A EVASÃO ESCOLAR NO SERTÃO”: UMA REFLEXÃO A PARTIR DE CATINGUEIRA–PB. In: Anais do IV Congresso Nacional de Educação–CONEDU. 2017.
REDE PENSSAN. II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. São Paulo. Fundação Friedrich Ebert, 2022. Disponível em: https://pesquisassan.net.br/olheparaafome/. Acesso em: 10 de julho de 2023.
RODRIGUES, N. Educação: da formação humana à construção do sujeito ético. Educação & Sociedade, v. 22, n. 76, p. 232–257, out. 2001. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/es/a/MpfHNQQRP5c4LBvN4pgPpwJ/?lang=pt&format=pdf>. Acesso em: 26 jun. 2023.
SANTOS, Ivone. Educação para a diversidade: uma prática a ser construída na educação básica. 40 f. Caderno temático, Pedagogia, UENP, 2008.
VASCONCELOS, Francisco de Assis Guedes de. Josué de Castro e a Geografia da Fome no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.24, n.11 p.2710-2717, nov, 2008. Scielo. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v24n11/27.pdf. Acesso em: 24 abr 2023
[1] Pós-Graduando em Ensino de Geografia pela FAVENI, Graduado em Licenciatura Plena em Geografia pela UERN. ORCID: https://orcid.org/0009-0006-4908-4104. CURRÍCULO LATTES: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K9772897Y7.
[2] Pós-Graduanda em Geografia Ambiental pela FACULESTE, Graduada em Licenciatura Plena em Geografia pela UERN. ORCID: https://orcid.org/0009-0005-5975-3167. CURRÍCULO LATTES: https://lattes.cnpq.br/4514190982858228.
[3] Pós-Graduanda em Ensino de Geografia, História e sustentabilidade pela FAVENI, Graduado em Licenciatura Plena em Geografia pela UERN. ORCID: https://orcid.org/0009-0002-2421-3409. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/9768228217477112.