São Paulo – A terceira onda de manifestações em defesa da educação pública começou pelas cidades do Norte e Nordeste do país na manhã desta terça-feira (13). Protestos nas capitais do Pará, Ceará e Bahia reuniram estudantes, professores e trabalhadores de diversas categorias. Além do corte de verbas em universidades e institutos federais determinado pelo governo Bolsonaro, eles também se manifestam contra o programa Future-se, que pretende ampliar a participação do investimento privado nas instituições públicas de ensino superior.
A proposta de “reforma” da Previdência, aprovada na Câmara e enviada ao Senado, também está na pauta das bandeiras de lutas dos manifestantes, que também lembraram como “traidores” os deputados que votaram a favor da proposta durante a primeira fase de tramitação.
Ceará
Estudantes se reuniram na Avenida 13 de Maio, no Benfica, bairro universitário da capital cearense, onde fica a sede a Universidade Federal do Ceará (UFC), e saíram em passeata pelas ruas do centro. Os cortes e o Future-se foram classificados como “pacote maldito” do governo Bolsonaro para a educação. Os trabalhadores que participavam da manifestação traziam cartazes com fotos dos 11 deputados do estado que votaram a favor da “reforma” da Previdência. Eles também pressionaram o senador Tasso Jereissati (PSDB), o mais rico dos representantes do Senado, escolhido relator da proposta que dificulta o acesso às aposentadorias.
“Mais uma vez ocupamos às ruas de Fortaleza e dos principais municípios do Ceará para nos posicionar contra a reforma da Previdência. Acreditamos que ainda é possível reverter esse cenário. Estamos nos posicionando contrários ao pacote maldito do governo Bolsonaro contra a educação. Não tem outro caminho a não ser ocupar as ruas”, afirmou o presidente da CUT-CE, Will Pereira.
A estudante da UFC Clara Souza destacou a postura ativa dos estudantes para resistir contra os desmandos do governo. “A gente está ativamente na rua, nos posicionando contra os cortes pela terceira vez. A gente não pode se calar. Estamos vendo a universidade pública sofrer um desmonte, com a perda de bolsas de estudo, de investimentos. Tivemos um corte de R$ 95 milhões. Não podemos aceitar, porque a universidade pública é um direito de todo mundo, e jamais tem que ser paga ou privatizada.”
Alagoas
Em Maceió, estudantes e trabalhadores se concentraram nos arredores do Centro Educacional de Pesquisa Aplicada (Cepa), o principal complexo educacional do estado. Segundo a dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal) Lenilda Lima, o governo Bolsonaro vem “destruindo a educação pública”. “Na última ação foram cortados mais de R$ 384 milhões do livro didático”, destacou em entrevista ao portal G1. A estudante secundarista Janaína Soares afirmou que não é possível imaginar um país sem educação. “Não faz sentido tantos cortes. Por isso estamos na rua.”
Bahia
Em Salvador, os manifestantes se reuniram na Praça Campo Grande, nos arredores da reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Para o professor de Educação Física Uendel Raposo a educação não é prioridade para o governo Bolsonaro. “Isso fica claro através dos cortes, que chamam de contingenciamento. Mas são fortes diretos que acredito ser uma forma de retaliação”, afirmou ao jornal A Tarde. A vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) na Bahia, Carolina Nunes, destacou a mobilização dos estudantes e afirmou que o atual governo “valoriza mais os cursos que vão te ingressar no mercado de trabalho como uma máquina, do que os que valorizam o estudo crítico”.
“Bolsonaro abre a boca apenas para detratar o povo brasileiro, para discriminar os nordestinos, negros e indígenas, odiar as mulheres e mandar matar a comunidade LGBT, que é a vontade dele. Estamos de pé, e vamos reagir a esses ataques. As universidades tiveram corte de R$ 6 bilhões, a maior da história da educação brasileira”, afirmou a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), no protesto em Salvador.
Pará
Em Belém, os manifestantes se concentraram na Praça da República, no início da manhã, e saíram em caminhada pelas ruas do centro da capital. O Estudante da Universidade Federal do Pará (UFPA) Eduardo Protásio diz que Future-se vai subordinar as universidades aos interesses dos seus patrocinadores. “A grande verdade é que o Future-se desvincula a verba pública que garante o funcionamento das universidades, passando a vinculá-la a uma administração econômica e política das grandes empresas. Se isso ocorrer, toda a linha de pesquisa e ensino das instituições federais passa a ser vinculadas a esses interesses”, afirmou à reportagem do Brasil de Fato.
Para a jornalista que participa do protesto junto com os estudantes, a educação é tratada como “vilã” pelo atual governo. “A educação está veiculada a absolutamente todo o nosso entendimento de política, de sociedade. A defesa das universidades é a defesa do mundo intelectual, da informação, da formação crítica. Quem vilaniza uma coisa dessas não pode estar a favor do país nem de democracia nenhuma. Por isso, a gente está aqui hoje”.
Também foram registrados protestos em defesa da educação nas cidades de Caruaru, Petrolina, Palmares, Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, e Tefé, no Amazonas. Outras capitais do Norte e Nordeste, como Rio Branco, Manaus, João Pessoa e Recife, terão atos na parte da tarde, assim como as capitais do Sul e Sudeste do país.
Interior paulista
As cidades de Campinas e São Carlos, que tem importantes pólos universitários, e Sorocaba, no também no interior de São Paulo, registraram protestos em defesa da educação durante a manhã. Estudantes e professores realizaram marchas e aulas públicas para alertar a população sobre os efeitos dos cortes na área.
Imagens do #Tsunami13Agosto em São Carlos-SP. pic.twitter.com/UnXy19pURw
— UNE (@uneoficial) August 13, 2019