O Globo
A direita deu uma demonstração de força na disputa pelas capitais do Nordeste, reduto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, elegendo candidatos com ampla margem no primeiro turno em três dos nove estados e concorrendo no segundo turno em outros quatro. Já a esquerda, historicamente prevalente na região em eleições estaduais e presidenciais, corre o risco de ficar restrita a Recife, onde João Campos (PSB) foi reeleito com votação expressiva.
Em Teresina, por exemplo, um embate direto entre esquerda e direita foi resolvido ainda no primeiro turno com a vitória do ex-prefeito Silvio Mendes (União), que contabilizou 52,19% dos votos. Apoiado pelo senador Ciro Nogueira (PP), ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, Mendes ficou à frente do petista Fábio Novo, que registrou 43,26% dos votos.
Já na Bahia, governada pelo PT, a capital seguirá comandada por Bruno Reis (União), reeleito com 78,67%. Herdeiro político de ACM Neto, o prefeito derrotou o vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que apesar de contar com o apoio de Lula, terminou o pleito em terceiro lugar, com 10,33%.
Outras grandes cidades
Além de Salvador, o União prevaleceu contra o PT em outros grandes colégios eleitorais do estado, como Feira de Santana, Lauro de Freitas, Ilhéus e Barreiras. No entanto, as siglas ainda se enfrentam no segundo turno em cidades como Camaçari, onde Lula esteve na quinta-feira. Caso o petista Luiz Caetano vença, Camaçari será a maior cidade da Bahia governada pelo PT.
A esquerda também encontra dificuldades em outros pleitos de segundo turno: em Campina Grande (PB), Bruno Cunha Lima (União) aparece à frente de Dr. Jhony (PSB) em pesquisas locais. O mesmo ocorre em Caucaia (CE), onde Naumi Amorim (PSD) disputa com o petista Waldemir Catanho .
Assim como em Salvador, Maceió também teve vitória da direita. O prefeito João Henrique Caldas (PL), o JHC, foi reeleito com 83,25% dos votos, derrotado o nome apoiado pelo presidente Lula, o deputado Rafael Brito (MDB). A disputa na capital alagoana também foi uma queda de braço entre dois caciques da política local: o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o senador Renan Calheiros (MDB).
De olho em 2026, os partidos de ambos os parlamentares saem dos pleitos municipais deste ano fortalecidos como as siglas que mais elegeram representantes em todo o estado, segundo a cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas Luciana Santana. Um dos principais cabos eleitorais de JHC, Lira assistiu à vitória de seu grupo político em 27 municípios, enquanto o MDB de Calheiros teve um desempenho ainda maior, conquistando o comando de 65 cidades.
— Com os resultados já no primeiro turno, vemos o Renan ganhando bastante fôlego principalmente no interior. Mas também temos o grupo de Arthur Lira vencendo na capital com o JHC, que pode inclusive disputar futuramente uma vaga no Senado, já ocupada pela mãe dele, a Eudócia Caldas (PSD).
O centro, por sua vez, foi vitorioso em São Luís , onde o prefeito Eduardo Braide (PSD) foi eleito no primeiro turno com o apoio de siglas como o MDB e o Republicanos. Já o deputado estadual Duarte Júnior (PSB), que concorreu em uma coligação junto ao PT, foi derrotado ao contabilizar 22,56% nas urnas e ficando distante mais de 47 pontos de Braide, eleito com 70,12% dos votos.
Para a cientista política e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) Monalisa Torres, há um “superdimensionamento” do desempenho da esquerda nas capitais do Nordeste. Ela ressalta que em eleições estaduais e presidenciais, partidos como o PT se saem bem na região, mas o mesmo não acontece historicamente em disputas municipais, onde a dinâmica de forças locais e regionais costuma prevalecer.
— O Nordeste deu sim vitória ao Lula em 2022, por exemplo, mas eu trabalho com a hipótese de que o eleitor nordestino é mais lulista do que progressista. É possível que ele se identifique mais com a história do presidente, que pode ser visto como um símbolo da resiliência nordestina, e com as políticas públicas implementadas por ele do que com as bandeiras consideradas de esquerda, diz.
Torres cita como exemplo João Pessoa. Na capital paraibana, a esquerda ficou de fora do segundo turno com a derrota de Luciano Cartaxo (PT), que teve 11,77% dos votos e terminou em quarto lugar. O confronto no município continua agora com um racha da direita, representada pelo atual prefeito e candidato à reeleição Cícero Lucena (PP) e por Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro da Saúde de Jair Bolsonaro.
Já em Natal, a corrida eleitoral se polarizou entre os deputados federais Paulinho Freire (União), apoiado por Jair Bolsonaro, e Natália Bonavides (PT). Segundo a Quaest, os dois estão empatados tecnicamente no limite da margem de erro, com Freire numericamente à frente (45%). Bonavides aparece com 39%.
Fortaleza rachada
No entanto, é na disputa em Fortaleza onde a rixa entre direita e esquerda mais se materializa, com o confronto direto entre o PT de Lula e o PL de Bolsonaro. Na capital do Ceará, estado governado pelo petista Elmano de Freitas e sob influência política do atual ministro da Educação Camilo Santana (PT), o segundo turno é disputado pelo deputado federal André Fernandes (PL) e pelo deputado estadual Evandro Leitão (PT). De acordo com pesquisa Quaest divulgada ontem, os dois têm 43%.
A cientista política Monalisa Torres diz que a derrota do prefeito José Sarto (PDT), que não foi nem para o segundo turno, é simbólica do “ derretimento da sigla no estado” após o racha da família Ferreira Gomes. O partido, que conquistou 63 prefeituras no Ceará em 2020 e agora contabiliza somente cinco vitórias no estado, sofre as consequências da grande debandada de prefeitos da sigla desde o rompimento entre os irmãos Cid e Ciro Gomes.
Uma derrota do PDT para o PL também tem chance de acontecer em Aracaju, onde a vereadora Emília Corrêa (PL) aparece com 52% das intenções de voto na Quaest. Ela disputa contra o ex-servidor Luiz Roberto (PDT), apoiado pelo atual prefeito da capital sergipana e seu correligionário, Edvaldo Nogueira.