O Ministério Público do Rio Grande do Norte informou nesta sexta-feira que abriu uma investigação para apurar o que levou à contaminação de 15 pacientes que fizeram cirurgias de catarata em Parelhas, no interior do Rio Grande do Norte. Oito pessoas tiveram que retirar o globo ocular por causa de um quadro de infecção nos olhos. Como mostrou O GLOBO, o mutirão foi realizado oito dias antes das eleições municipais na qual o atual prefeito, Tiago Almeida (PSDB), foi reeleito.
Em entrevista coletiva, a promotora de Justiça Ana Jovina Ferreira apontou que a causa da contaminação foi “falha na higienização” do centro cirúrgico onde foi feito o procedimento.
— Houve uma falha na higienização e esterilização no ambiente. Nós não sabemos ainda qual foi o instrumento que estava infectado e não sabemos se foi uma falha humana, mas, com as evidências que temos, é possível dizer que houve falha na higienização — disse a promotora.
Ferreira ainda afirmou que irá investigar se houve uso indevido de poder político e “interesse eleitoreiro” nas cirurgias, uma vez que elas foram realizadas em meio à campanha eleitoral. Ela também informou que a prefeitura será obrigada a indenizar os pacientes infectados.
— Tudo isso será visto com base na análise que será feita de todo o conteúdo probatório que já foi condensado — afirmou.
A prefeitura de Parelhas informou que as infecções foram causadas pela bactéria Enterobacter Cloacae e que tem dado todo o suporte necessário para os pacientes. Sobre a proximidade das cirurgias com as eleições, o prefeito alega que o trabalho da gestão municipal não poderia parar por causa da campanha.
— A saúde é contínua, não pode parar. Eu não podia parar por causa das eleições. Até porque a gente tem filas constantes. E 50 pessoas (que fizeram a cirurgia), mesmo se você multiplicar por quatro, pensando nos familiares, não teria alteração na eleição. Eu ganhei com uma diferença de quase 7 mil votos — disse ao rebater a alegação de ganho eleitoral.
Devido à proximidade com o pleito, uma das coligações da cidade entrou com uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), apontando abuso de poder político por parte do prefeito.
A professora de matemática Francinete Maria de Azevedo Assis, de 61 anos, é uma das pacientes que teve que retirar o globo ocular para evitar que a infecção se espalhasse. Ela fez a cirurgia de retirada do olho na rede particular de Natal, para onde foram levados os pacientes com os quadros mais graves.
A mulher conta que já havia feito outra cirurgia de catarata em agosto, e que sentiu que o procedimento feito no mutirão em Parelhas foi diferente. A professora diz que sentiu muitas dores durante a operação.
— À noite, eu já não me senti bem, senti o olho queimando. Voltei ao médico no dia seguinte e ele disse que estava tudo normal. Mas à tarde eu senti uma dor de cabeça insuportável e fui ao médico de novo. O olho já estava bem vermelho, mas ele disse que era normal. Eu voltei para casa, dormi, e quando foi no outro dia (domingo) eu amanheci cega — disse.
Francinete, então, buscou atendimento na rede particular e foi orientada a retirar o globo ocular, o que foi feito na quarta-feira da semana passada, cinco dias depois de fazer o procedimento de catarata.