Boa parte do foco da campanha presidencial de segundo turno nas eleições 2022 foi deslocada para o Nordeste. O presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta conquistar o eleitorado nordestino que, no primeiro turno, preferiu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Lula venceu na região com uma vantagem de cerca de 13 milhões de votos. Chegou a 67% dos votos válidos na região. Bolsonaro teve 26,8%.
Mas o que, afinal, Lula e Bolsonaro fizeram pelo Nordeste? Veja o que dizem as campanhas:
Em busca do eleitorado nordestino, o atual presidente tem apontado como feito no Nordeste a conclusão da transposição do Rio São Francisco.
Trata-se de uma obra relevante para resolver o problema da seca no Nordeste. A ideia é deslocar a água do São Francisco, por meio de dutos e canais, para abastecer açudes e rios menores que desaparecem no período de estiagem.
Em 2015, por exemplo, Dilma Rousseff (PT) entregou a estação de bombeamento do Eixo Norte. Já em 2017, Michel Temer (MDB) inaugurou o Eixo Leste.
Em junho de 2020, Bolsonaro inaugurou um dos trechos finais do Eixo Norte. Nesse trecho, as águas do rio são conduzidas ao Ceará, na barragem de Jati, região do Cariri. A obra, no entanto, ainda não está concluída. Segundo o site do Ministério do Desenvolvimento Regional, o Eixo Norte ainda não está completamente finalizado, restando a execução de “serviços complementares.”
Bolsonaro dedicou uma propaganda eleitoral inteira voltada aos nordestinos – por ocasião do Dia do Nordestino no dia 8 de outubro. A narração aponta que “foi o presidente Bolsonaro que criou o Auxílio Brasil, garantindo o mínimo de R$ 600 para 20 milhões de famílias brasileiras e o auxílio-gás, que paga 100% do valor do botijão, para mais de 5 milhões de famílias”.
Os números de beneficiários citados no vídeo estão corretos. De acordo com o Ministério da Cidadania, 20,2 milhões de famílias têm recebido o Auxílio Brasil desde agosto quando, às vésperas da eleição, o governo ampliou para 2,2 milhões o número de beneficiários. De fato, 5,6 milhões de famílias recebem o auxílio gás.
Sobre o Auxílio Brasil, porém, a campanha do presidente e candidato à reeleição omite o fato de que o valor de R$ 600 é válido apenas até dezembro. Bolsonaro tem prometido manter o patamar, mas não há previsão orçamentária para isso.
Da mesma forma, em relação ao auxílio-gás, o pagamento integral do valor do botijão de 13 kg começou a valer em julho e valerá apenas até dezembro de 2022. Além disso, o pagamento ocorre a cada dois meses. A partir de janeiro de 2023, o governo volta a pagar, a cada dois meses, 50% da média do preço nacional de referência do botijão de 13 kg de gás de cozinha.
Programas de transferência de renda não foram criados no governo Bolsonaro; já existiam em governos passados. O Auxílio Brasil foi lançado em novembro de 2021 para atender inicialmente o mesmo público do Bolsa Família, que foi criado em 2003 e extinto no ano passado
A campanha também coloca que “Bolsonaro foi o presidente que fez a maior entrega de títulos de terra para as famílias do campo. Foram mais de 420 mil títulos de posse”, diz a narração, na propaganda eleitoral gratuita.
A afirmativa é verdadeira. De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), foram expedidos 424.561 documentos de titulação. O número considera os títulos entregues em assentamentos da reforma agrária e também em áreas públicas passíveis de regularização fundiária no período entre 2019 e 7 de outubro de 2022.
Durante os governos petistas de Lula e Dilma Rousseff – de 2003 a 2016 – foram emitidos 265.677 títulos de reforma agrária e regularização fundiária, segundo o Incra.
No governo Michel Temer (MDB), que durou pouco mais de dois anos, foram expedidos 208.563 títulos.
A transposição do São Francisco também é citada por Lula como feito de seu governo. Em uma publicação feita em fevereiro de 2022 em uma rede social, ele afirmou: “A transposição do Rio São Francisco está sendo concluída. Eu só espero que o Bolsonaro, que está fazendo viagem para inaugurar o pedacinho que ele concluiu, que ele tenha a coragem de dizer ‘eu estou inaugurando aqui, mas quem começou essa obra foi o presidente Lula’.
A ideia do projeto da transposição do São Francisco é antigo – data de 1847, na época do Império. Mas, de fato, a obra foi iniciada em 2007, durante o segundo mandato de Lula.
A campanha também tem destacado feitos dos governos petistas para combater a seca e levar água ao semiárido. “Os governos petistas criaram o programa responsável pela construção de mais de um milhão de cisternas, que revolucionaram a vida de quem penava com a falta de água para plantar e para comer”, diz texto da campanha.
A declaração é verdadeira. Trata-se do Programa Cisternas, criado em 2003 – primeiro ano do governo Lula – e que atualmente é executado pelo Ministério da Cidadania. É uma política pública para construção de reservatórios de água para uso doméstico e irrigação. Foram entregues, até o momento, 1,3 milhão de cisternas – o recorde foi registrado em 2014, durante o governo Dilma Rousseff (PT), quando foram construídas 149 mil cisternas.
A partir de 2017, sob o governo Michel Temer, o número de reservatórios entregues começa a cair. Mas a maior queda é registrada a partir de 2020, quando o governo Bolsonaro entrega 8,3 mil cisternas. No ano passado, foram 4 mil, o menor número em 18 anos do programa.
Ao passar por cidades nordestinas, no primeiro turno, a campanha de Lula enalteceu investimentos na área da educação a partir da criação de campi de universidades públicas e institutos federais em todos os Estados, mas especialmente no Nordeste. “A população universitária quase triplicou, saltando de 3 milhões em 2003 para 8 milhões em 2016”, diz a peça.