No Museu de Arte Popular da Paraíba: evento “Leia Mulheres” aborda clássico dos direitos femininos
7 de outubro de 2024
No sábado (19), às 15h, o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), em Campina Grande, é ponto de encontro para o projeto “Leia Mulheres” – clube de leitura cujo propósito é promover um espaço de partilha de experiências, tanto de leitura como de vida, tendo por base obras escritas por mulheres. A entrada é gratuita e aberta a todos os interessados, sem necessidade de inscrição.
O livro eleito para a oportunidade foi o clássico “Reivindicação dos direitos da mulher”, de Mary Wollstonecraft. A escritora e filósofa inglesa denunciou o machismo da Revolução Francesa, que reivindicou liberdade, igualdade e fraternidade apenas para os homens brancos europeus burgueses, deixando de fora os direitos das mulheres e de outras categorias que não cabiam em seus parâmetros de “sujeito universal”. Assim, em 1792, Wollstonecraft publicou sua resposta ao proposto pela Revolução, que excluía as mulheres do direito à educação formal e à autonomia. A Reivindicação, mesmo após mais de 200 anos de seu lançamento, permanece atual e urgente, segundo enfatizou uma das mediadoras do projeto, Renata Oliveira.
O “Leia Mulheres” iniciou suas atividades em Campina em janeiro de 2016, nas dependências do Teatro Municipal Severino Cabral (TMSC). “Fizemos encontros na Biblioteca, passando pelo Miniteatro Paulo Pontes até o porão”, contou Renata. De lá para cá, centenas de obras foram trabalhadas e o projeto esteve em diversos locais: o Centro Cultural Lourdes Ramalho, o Ipê Espaço Terapêutico e a Livraria Nobel, aportando no MAPP em maio deste ano, quando foi firmada uma parceria. “Já houve cinco encontros no Museu e tem sido uma experiência muito positiva. Inclusive, em junho e julho, as autoras das obras selecionadas integraram a iniciativa”, detalhou.
As atividades acontecem sempre no terceiro sábado de cada mês (à exceção de feriados ou imprevistos), das 15h às 17h30. “Qualquer pessoa interessada pode participar, é só chegar. Somente alertamos para a censura de 18 anos, se a obra do mês trata de temas sensíveis, como sexo, drogas ou violência”, pontuou Renata, que divide a tarefa de mediação no projeto com Manu Alves e Vitória Medeiros.
Os encontros são feitos em formato de roda de conversa. “Há um momento inicial em que as pessoas se apresentam. Em seguida, uma das mediadoras traz dados biográficos da autora e uma breve sinopse e contextualização da obra. Depois disso, há o relato das experiências de leitura. Ao final, há uma rodada de sugestões e votação do livro a ser debatido no mês seguinte”, explicou Renata.
O público é rotativo, varia de acordo com a obra. Já foram contabilizados eventos com mais de 40 pessoas, mas em média participam de 15 a 20. Há aqueles mais frequentes, mas sempre chega gente nova. Outras informações podem ser adquiridas na rede social @leiamulherescg.
Leia Mulheres!
O primeiro livro debatido pelo “Leia Mulheres” foi o romance “O Sol é Para Todos”, de Harper Lee, por iniciativa da mediadora Samuely Laurentino, que, na época, era professora de balé do Teatro Municipal, onde ocorreram os primeiros nove encontros.
“Nas sugestões, buscamos alternar entre autoras brasileiras, num mês, e estrangeiras, no outro, para manter a diversidade de nacionalidades e gêneros literários. Nos meses em que há alguma data comemorativa ou marco de luta de populações vulnerabilizadas, a exemplo de indígenas, negras, mães, LGBTQIAPN+, idosas, damos preferência às obras que tratem da respectiva temática, dado nosso engajamento social e compromisso político com as chamadas minorias”, destacou.
Ler mulheres, como assinala Renata, é uma forma de visibilizar as contribuições delas, mudando, mesmo que lenta e paulatinamente, a mentalidade e as atitudes misóginas da sociedade. “É um ato de sobrevivência, resiliência e utopia. É agir na esperança de um bem-viver para todas as pessoas. Sabemos que o machismo se imiscui em cada átomo do mundo em que vivemos, desde a sua estrutura, vide a naturalização da cultura do estupro, até as exorbitantes estatísticas de feminicídios. Não seria diferente na literatura e no mercado editorial, cuja hegemonia permanece masculina. Seja de maneira literal ou simbólica, há um apagamento das mulheres e suas produções ao longo da história, por isso, estar em contato com a literatura delas é revolucionário”, disse.
Dentro da trajetória do “Leia Mulheres”, Renata trouxe à memória algumas ocasiões, como quando a iniciativa foi convidada a estar na Feira Literária de Campina Grande (FLIC/CG), mediando diálogos de obras de escritoras pré-selecionadas pela organização do evento, como “Mainá”, de Karina Buhr, “A filha primitiva”, de Vanessa Passos, e “Mikaia”, de Tatiane Santi Martins, em que as autoras participaram. “Além disso, ao longo desses quase nove anos de atuação, tivemos contato com obras e mulheres que muito nos marcaram, a exemplo das discussões, também com a presença das escritoras, a partir de ‘E se eu fosse puta’, da paulistana e travesti Amara Moira, da história em quadrinhos ‘Olga, a sexóloga’, da quadrinista paraibana Thaïs Gualberto, e de ‘O pensamento de Angela Davis’, da pesquisadora antirracista campinense Bruna Santiago, entre tantas outras”, elencou.
O Clube privilegia, ainda, autoras canônicas da literatura brasileira, como Helena Morley, Maria Firmina dos Reis, Clarice Lispector, Carolina Maria de Jesus, Adélia Prado, Cecília Meireles, Rachel de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Hilda Hilst, Lourdes Ramalho, e mundial, a exemplo de Mary Shelley, Jane Austen, Virginia Woolf, Simone de Beauvoir, Wislawa Szymborska, Margaret Atwood, Rupi Kaur e Sylvia Plath.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Divulgação