A educação ainda é uma chaga no Nordeste brasileiro. Segundo os dados do último Censo, o percentual de pessoas nordestinas que não sabem nem ler nem escrever é o dobro do total nacional. No Brasil, a taxa de analfabetismo é de 7%. No Nordeste, é de 14,2%. Aos poucos, porém, o Nordeste vai conquistando melhoras que poderão ter um salto no seu perfil educacional. Tal evolução já tinha sido percebida no último Exame Nacional do Ensino Mèdio (Enem). E se confirma agora também com relação à educação básica.
As cem escolas públicas do país com melhor desempenho educacional nos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano) são todas da região Nordeste. O Ceará concentra o maior número de unidades que lideram o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade da educação do Brasil.
Das 100 escolas com melhores resultados, 68 são escolas públicas do Ceará, 31 são de Alagoas e uma de Pernambuco. A média dessas unidades é muito superior à dos colégios particulares do país, que foi de 7,2.
No Ideb 2023, 21 escolas municipais atingiram a nota máxima do indicador, que varia de 0 a 10. A cidade de Sobral (CE) reúne cinco das unidades com média 10 no Ideb. Mucambo, Pires Ferreira e Cruz, também no Ceará, têm duas unidades com nota máxima. Coruripe (AL) tem duas escolas com média 10.
Semelhantes
A média do Brasil nos anos iniciais chegou a 6 no Ideb de 2023, alcançando a meta que era prevista para 2021. Entre as escolas da rede pública, a média foi de 5,7 — ligeiramente abaixo do projetado, que era de 5,8.
Os três estados com melhor resultado nessa etapa de ensino seguem uma política semelhante: um sistema organizado de colaboração entre estado e municípios, a inspiração e adaptação de experiências exitosas e a reação pedagógica diante dos resultados de índices educacionais. O sistema de colaboração usado por esses estados surgiu com o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) a partir de 2007. O plano é apontado como um dos responsáveis pelos resultados positivos a que chegaram as escolas do Ceará e que depois foi replicado em outras redes.
Um aspecto crucial da política educacional do Ceará foi a implementação do ICMS Educacional, que levou a alterações na legislação do Novo Fundeb. Essa medida determina que pelo menos 10% da cota municipal do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) seja distribuída com base em indicadores de progresso na aprendizagem e equidade do sistema educacional. No que diz respeito aos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), o Ideb 2023 revela um cenário desafiador. Embora mais da metade dos municípios tenha melhorado seus indicadores, apenas um quarto atingiu as metas estabelecidas para 2021 no ano passado.
Distribuição
No ano passado, o país tinha nos anos finais do ensino fundamental 11,6 milhões de alunos, sendo 5,1 milhões matriculados em escolas de redes ligadas às prefeituras (44% do total). É a maior participação, uma vez que 39,5% estão em escolas estaduais e o restante em privadas. Das 3.195 redes municipais que oferecem anos finais e tiveram o Ideb calculado, somente 24% conseguiram chegar em 2024 a um indicador que atinge as suas próprias metas estipuladas para 2021. Esse percentual representa 762 escolas — por outro lado, 2.433 escolas (76%) ficaram abaixo do nível esperado. Essa análise leva em conta a meta prevista para cada escola, estipulada pelo governo a partir da sua própria realidade. Especialistas indicam que esse tipo de leitura é importante por acompanhar a melhoria da unidade com relação a ela mesma. O número de escolas que tiveram alta no Ideb em 2023 é maior. Chega a 1.641 unidades municipais de anos finais, o que representa 56% das escolas analisadas (que tiveram Ideb divulgado em 2023 e em 2019).
A análise não incluiu comparações com os dados de 2021 devido a distorções no indicador naquela época, causadas pela suspensão de reprovações durante a pandemia, o que afetou o cálculo. O município de Santana de Mundaú (AL) obteve a melhor performance nos anos finais do Ideb, com uma média de 9,3. Em seguida, Pires Ferreira (CE) alcançou uma média de 9,2. O Ceará destaca-se com 12 municípios entre os 20 melhores do país na categoria dos anos finais, considerando apenas redes municipais. Em contraste, a média nacional dos anos finais na rede pública foi de 4,7, abaixo da meta de 5,2 prevista para 2021.
Nos anos iniciais, a situação é mais positiva. Dos 5.241 municípios com Ideb divulgado em 2023 para essa etapa, 48% atingiram a meta de 2021, totalizando 2.532 escolas. No entanto, 52% das escolas (2.709) não conseguiram alcançar a meta. Entre as 5.409 escolas municipais avaliadas tanto em 2019 quanto em 2023, 52% apresentaram melhora, somando 2.620 escolas.
Esses resultados refletem a eficácia das políticas educacionais focadas no desenvolvimento integral dos alunos, com investimentos em formação de professores, infraestrutura e programas pedagógicos. O sucesso do Nordeste no Ideb 2023 serve como exemplo para outras regiões, demonstrando que é possível transformar a educação pública com planejamento e dedicação. A região continua a avançar na qualidade educacional, consolidando-se como uma referência no Brasil e destacando-se pela superação de metas e compromisso com o desenvolvimento dos estudantes.
Avanços
O progresso nos anos iniciais do ensino fundamental é apenas uma parte da história de sucesso da educação no Nordeste. Em estados como Alagoas, Pernambuco e Piauí, o desempenho também foi significativo nos anos finais (6º ao 9º ano) do ensino fundamental. Por exemplo, Alagoas atingiu a meta com 5,0 pontos nos anos finais, enquanto Pernambuco alcançou a mesma pontuação, demonstrando a consistência do avanço educacional em diferentes fases da Educação Básica na região.
Esses resultados são um reflexo direto das políticas educacionais focadas no desenvolvimento integral dos estudantes, com investimentos em formação de professores, infraestrutura escolar e programas de acompanhamento pedagógico. O sucesso do Nordeste no Ideb 2023 serve de exemplo para outras regiões do país, mostrando que é possível transformar a educação pública com planejamento e comprometimento. O Nordeste continua a avançar na qualidade da educação, proporcionando a seus alunos uma base sólida para o futuro. Com esses resultados, a região se consolida como referência no Brasil. Desse modo, se destaca não apenas pela superação de metas, mas pelo compromisso com o desenvolvimento integral dos estudantes.
O Ideb
Principal indicador da educação básica pública e privada, o Ideb varia numa escala de 0 a 10. O índice é calculado a cada dois anos para os anos iniciais e finais dos ensinos fundamental e médio. Para compor o Ideb, O MEC leva em consideração as notas dos estudantes na prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), avaliação de Português e Matemática, que foi aplicada nos meses de outubro e novembro do ano passado, e os índices de aprovação, compilados pelo Censo Escolar. O indicador reúne também o fluxo escolar. O que a pontuação significa? O índice dá uma ideia geral do desempenho das escolas, municípios, estado e país na educação, se estão avançando, piorando, e serve como um alerta para os gestores educacionais e para a sociedade. As notas ajudam a entender o nível de domínio de conteúdo de alunos em áreas da educação. A escala que vai de 1 a 10 ajuda a entender, por exemplo, se alunos dos primeiros anos do ensino fundamental sabem multiplicar números naturais, calcular a área de uma figura geométrica, ou entender o assunto de uma reportagem ou tirinha.
Nos anos iniciais do ensino fundamental, o Ideb nacional foi de 6. Um aumento em relação a 5,8 (em 2021) e 5,9 (em 2019). A meta para esta etapa do ensino, em 2021, era de 6. Ou seja, a meta foi cumprida. Nos anos finais do ensino fundamental, o índice foi de 5, contra 5,1 no levantamento de 2021 e 4,9 em 2019. A meta para esta etapa do ensino, em 2021, era 5,5. Ou seja, ficou abaixo da meta. No ensino médio, o Ideb ficou em 4,3 – aumento de 0,1 na comparação com 2021 e 2019 (4,2). A meta para esta etapa do ensino, em 2021, era 5,2. Assim, também ficou abaixo da meta.